quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Férias ???

Pois é, férias forçadas.... é o que eu tenho dito quando me perguntam como estou ou o que ando fazendo. Mas, de repente me dei conta que não tenho aproveitado este time out. Não que eu esteja vivendo esta doença que, aliás, eu nem chamo de minha, mas acabei me deixando levar por pequenas obrigações diárias, por um certo tédio, talvez sinta falta de uma atividade profissional, uma rotina mais dinâmica.

Pergunta: Não será o momento ideal pra tocar aquele projeto, ou projetos, ou ainda, atividades antes difíceis de realizar por pura falta de tempo dentro de uma rotina alucinada?

Pausa pra um mergulho

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Entre ser forte e assumir a própria fragilidade

Às vezes, quando eu converso com alguém sobre como eu estou me sentindo percebo que as pessoas têm uma visão a meu respeito que talvez eu não tenha (pelo menos, não hoje). Ou talvez não me sinta dessa forma sempre. Ou talvez seja normal eu me sentir mais fragilizada, irritada, insegura.
Fico mesmo impressionada quando me dizem assim: mas você é forte, se fosse comigo....ou então: admiro tanto tua força e coragem pra enfrentar tudo desta forma...
Como conseguem me ver desse jeito se eu mesma não consigo? Me sinto tão à beira. Tão entre como eu gostaria de me sentir e o que eu não posso nem imaginar.....Me sinto, às vezes, precisando desesperadamente de colo. Um colo divino, sabe? Um que me conforte de verdade. Que tire a angústia com a mão.
Ontem conversando com um amigo que eu não vejo há algum tempo, me dei conta que eu ando fugindo das pessoas, me escondendo mesmo, tentando me proteger será?
Queria que tudo passasse beeeeeeeemmmmmm rápido, que acabasse logo!

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Náuseas....

Náuseas, náuseas, náuseas.... Não consigo entrar na cozinha, sequer chegar próximo dela. Abrir a geladeira é um tormento, mesmo que não seja eu abrindo! Sinto os cheiros à distância.
Estou criando uma relação íntima com a privada! Not too funny!

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Plano de saúde

Vou tentar fazer um resumo dos últimos dias....
Ainda no hospital, o meu plano de saúde resolveu me dar uma canseira pra liberar um medicamento que, neste momento, é muito importante pra mim, o neulastin.
Eu não tinha ideia do que realmente pega na quimioterapia, mas o que mais preocupa é que a quimio mata as células do tumor, mas também mata as células boas. Assim acaba matando as células que se reproduzem com maior frequência como as células da pele, pêlos e cabelos (por isso que eles caem...), mas o maior impacto é na medula, isso mesmo, na produção de sangue, fazendo despencar as plaquetas, glóbulos vermelhos e brancos. O que pode causar anemia, prejudicar a cicatrização e, principalmente, derrubar a imunidade, minhas defesas e, desta maneira deixar o caminho livre para uma infecção generalizada. Por isso eu preciso tomar o tal do neulastin, que estimula a produção de leucócitos aumentando minhas defesas. Mas parece que a Medial tem uma certa dificuldade em entender tais necessidades. Demorou, mas liberou.
Sexta passada seria minha segunda quimioterapia. Digo seria, porque não foi autorizada. Fico pensando no que passa na cabeça desses auditores...Será que alguém pede pra tomar uma quimioterapia sem ter extrema necessidade? E o pior, passei a tarde de sexta berrando ao telefone com eles porque simplesmente ninguém me respondia o por quê da não autorização, assim, sem explicação.
Eu de um lado, desesperada, e o meu médico de outro, com a maior paciência do mundo correndo atrás dos auditores pra entender o que estava acontecendo e resolver a situação. Deu certo, ele resolveu, eu tinha certeza que ele conseguiria. Só não entendo a Medial, não entendo essa relação, essa falta de argumentos, essa falta de respeito.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Outubro Rosa

Nem tinha percebido que não falei exatamente que tipo de câncer eu ainda tenho, e como foi a minha descoberta.

No ano passado percebi um nódulo na mama direita que começou, de repente, a inchar e expelir uma secreção com pus e sangue pelo mamilo. Fui ao médico e fiz alguns exames que concluíram que era apenas um nódulo inflamado. Fiz o tratamento e deveria ter voltado ao médico no começo do ano, mas não voltei. Como o nódulo diminuiu, eu achei que estava tudo bem. Me envolvi na minha correria de faculdade, trabalho, família, casa.....e deixei passar até que.....o nódulo voltou a crescer, a secreção reapareceu e meu seio foi ficando enorme, e vermelho e quente. E então, meu médico resolveu me internar porque meu convênio estava enrolando pra liberar meus pedidos de exames.

Diagnótico: carcinoma inflamatório grau 2. O que é bom e ruim. É bom porque é começo, é ruim porque se alastra com facilidade. Fico pensando que eu tenho que agradecer porque inflamou, o que me obrigou a voltar a procurar meu médico e começar o tratamento rapidamente. Por isso o diagnóstico precoce é tão importante. E, neste mês, acontece uma campanha de alerta e luta contra o câncer.


Outubro Rosa é um movimento surgido há mais de dez anos na Califórnia. Outubro foi o mês escolhido para a luta contra o câncer de mama como um esforço mundial para conscientizar e mobilizar a sociedade para o combate à doença. No Brasil, durante todo o mês, diversos eventos vão colorir de cor-de-rosa importantes pontos do país para alertar a população sobre a importância da mamografia periódica para todas as mulheres com mais de 40 anos e do diagnóstico precoce, ressaltando que o exame mamográfico é o melhor meio para detectar tumores ainda em fase inicial, possibilitando a cura em até 95% dos casos.

O autoexame das mamas continua sendo importante, mas não deve ser uma ação isolada porque quando o tumor atinge o tamanho suficiente para ser palpado, já não está mais no estágio inicial, e as chances de cura diminuem.
(informações do site www.mulherconsciente.com.br)

Mas fico pensando que como a mamografia é indicada somente para mulheres acima dos 40anos, o que resta para as mulheres abaixo dessa idade é realmente o autoexame. Como no meu caso, 32 anos, tive filho antes dos 30, amamentei por mais de 1 ano, não tenho nenhum caso na família, em resumo, nenhuma predisposição ao câncer, nenhuma necessidade de exames periódicos preventivos. Só o autoexame. Melhor do que nada, mesmo!

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Meus cabelos - parte 2


Continuo com o mesmo assunto, mas estou melhor resolvida, talvez.
Passou aquele mal estar com os meus cabelos. Acho que sou assim mesmo. Sofro bastante com as novidades, mas passa rápido e, de repente nem lembro mais do incômodo em questão.
Resolvi me ocupar de outro incômodo: a dor no meu couro cabeludo! Eram tufos e mais tufos de cabelo caindo, fios espalhados pela casa inteira, o Ettore reclamando que seus brinquedos estavam cheios de "pelo", e logo depois correndo atrás de mim pra devolver meus fios caídos. E a dor, uma dor insuportável no couro cabeludo.
Pronto, resolvido, raspei a cabeça!

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

um dia eu acordei com câncer

“Sempre que eu saio daqui do hospital, bem ali na faixa de pedestre, eu olho aqui pro décimo andar pra ver se você está me olhando”.
“Não, eu não gosto de ver vocês indo embora”. Ela me respondeu com sorriso tímido e melancólico.
Fiquei por um instante, pensativo, olhando aquela vista do décimo andar daquele hospital.
Nos despedimos mais uma vez, igual aos outros dias. Quando saí, evitando não me mostrar fragilizado, evitei olhá-la diretamente nos olhos. Numa fração de segundos percebi que ela também me evitava.
Desci. Desta vez, com o pequeno no colo. Na faixa de pedestre sabia que ela estaria ali nos olhando. Olhei pra cima, sorri triste, e vi sua silhueta.
Primeiro acenei. Sorri quase descontrolado. Ela ergueu as mãos de maneira contida e delicada.
Falei para o pequeno: “Olha! Lá em cima!” ele ingênuo, acenou afobado e sorridente.
“Cadê? Onde?” ele questionava sem parar de acenar. Quase respondi “Ali, no décimo andar”, algo estúpido demais pra se dizer para uma criança de três anos. Ela tentando se fazer percebida, acenou ainda mais forte.
Sabia que ela deveria estar chorando. Mesmo sem saber pra onde, o pequeno continuava se despedindo. Virei de costas, enxuguei meus olhos. Agora, ela sabia que eu estava chorando.
No carro, ainda mais distante, depois de deixar o pequeno devidamente amarrado e seguro na sua cadeirinha no banco de trás, dou a volta e chego à porta do motorista. Instintivamente olho para o décimo andar. Sua silhueta continua lá. Eu tento demonstrar positividade e gesticulo com segurança e confiança - um “tchau” eufórico e firme. Mais uma vez, menti pra ela. Entrei no carro e chorei até em casa... A nossa casa.


Foi meu marido, o Dan, quem escreveu o texto acima quando eu estava internada e recebi meu diagnóstico. Passado o impacto da notícia, de verdade, eu não estava mais me sentindo assim, triste. Tenho muita confiança nos meus médicos e no meu tratamento. Tenho me sentido tão bem emocionalmente que dispensei todos os calmantes e antidepressivos ainda no hospital.
Faz 13 dias que eu fiz minha primeira sessão de quimioterapia. E, apesar de ter passado muito mal com as reações dos medicamentos da quimio, estava me sentindo forte. Acho que forte é a palavra que realmente descrevia meu estado de espírito.
Parece besteira, pelo menos pra mim era uma besteira, mas hoje meu cabelo começou a cair e me doeu. Eu sei que vai cair mesmo, entendo porque, sei que vai crescer de novo, mas é simbólico! Simboliza pra mim e pra todo mundo o meu câncer, mostra definitivamente que começa uma outra vida!